A Jornada de UX de Jean-Dominique Bauby em O escafandro e a borboleta
Durante a semana escrevi bastante sobre conceitos de usabilidade, softwares inclusivos que se adéquam a pessoas portadoras de necessidades especiais, acessibilidade e ergonomia.
No material que escrevi, menciono um documento de 1999 (WCAG, Web Content Acessibility Guidelines) que faz um direcionamento referente à acessibilidade na internet. O objetivo deste documento é basicamente mostrar o que é preciso ser feito para tornar o conteúdo (web) mais acessível para pessoas com necessidades especiais. Existem algumas recomendações que este documento apresenta. E de acordo com ele, as pessoas que utilizam a web podem ser pessoas:
· Incapacitadas de ver, ouvir, se locomover ou até mesmo pessoas que apresentam problemas de interpretação.
· Pessoas que consideram difícil a leitura e a interpretação em qualquer nível.
· Pessoas que não consigam utilizar ferramentas como um mouse.
· Pessoas que não possuem alcance à internet ou hardware.
· Pessoas que não possuem softwares atualizados.
Assim que terminei de escrever sobre o assunto, me veio aquele momento BAZINGA!
Quando cursei minha primeira graduação, a de Letras, estudamos um autor que fiquei apaixonado não apenas pela obra, mas pelo esforço empregado em escrever certa obra literária.
Estou falando do livro O Escafandro e a Borboleta (Le scaphandre et le papillon no original em francês), que conta a história do jornalista Jean-Dominique Bauby, que sofreu um grave acidente vascular cerebral e entrou em coma. Após acordar de seu coma, Bauby podia apenas piscar o olho esquerdo.
Porém, com seu intelecto em perfeito estado, Bauby escreveu o livro O Escafandro e a Borboleta através de um método desenvolvido por sua fonoaudióloga.
O método se baseava em letras do alfabeto que eram recitadas lentamente na ordem decrescente de frequência na língua francesa. Bauby piscava a pálpebra esquerda quando a letra que queria era dita. Após um período, a fonoaudióloga já deduzia as palavras e frases com poucas letras/palavras.
Escrevi em um tópico sobre usabilidade que a cognição possui um papel importantíssimo na experiência do usuário. Desde o momento onde você ativa o conhecimento pré-existente do usuário até a análise do esforço cognitivo que será empregado para realizar tal tarefa.
No caso aqui supracitado, a fonoaudióloga que acompanhou Bauby no desenvolvimento do livro, se preocupou com o esforço cognitivo a ser empregado pelo autor, visto que este conseguia apenas piscar o olho esquerdo. E é aí que a experiência do usuário se consolida, quando você pensa em uma estratégia que fará com que o usuário realize com eficácia a interação, focando em alcançar seus objetivos. É válido lembrar que tudo isso ocorreu nos anos 90 e o resultado desta parceria é a concretização de uma obra literária digna de honra.
Recomendo que assistam ao trailer do filme.
Não pude não lembrar do momento em que nosso professor de Literatura, William Alves Biserra, nos apresentava esta belíssima história em alguma disciplina de Literatura do curso de Letras da Universidade Católica de Brasília. Aproveitando este momento, deixo aqui meus sinceros agradecimentos a toda a passagem de conhecimento e amizade que este professor me proporcionou. William sempre soube instigar nossa curiosidade e ele sempre se compartilhava de nossa empolgação quando descobríamos estas histórias do mundo literário.
Toda interação é um processo único e que exige algo do usuário. Entender que este usuário possui uma necessidade a ser suprida, torna a experiência exclusiva.
Imagino e admiro o trabalho que esta fonoaudióloga teve nos meados dos anos 90 para conseguir concretizar o desenvolvimento desta obra literária. Ela aplicou a essência da experiência da jornada do usuário com Bauby e obteve um sucesso digno de honra.
Obrigado por seu tempo dedicado a este texto. De verdade.